segunda-feira, 26 de agosto de 2013



  O Papel do Educador na Educação dos Sentidos


O papel dos educadores assemelha-se ao um facilitador, de um maestro musical que não rege, mas compõem mutuamente a sinfonia do desenvolvimento humano através do brincar. Nós, seres humanos, já trazemos conosco a maior parte de nossas demandas necessárias para nos auto-regularmos de acordo com o que vamos vivenciando. As brincadeiras, a pintura, a arte em si são exemplos de ferramentas que podem ser utilizadas pela criança nessa auto-regulação. As informações  contidas nas brincadeiras e feitio da arte são exteriorizadas a partir de um “intuir” daquilo que a criança compreendeu. Exprime-se desta forma o brincar, enquanto sentido de evocação de experiências anteriores, desta forma o brincar tornar-se-ia uma rememoração ampliada de vivências passadas  que agora são atualizadas afim de uma melhor compreensão no inconsciente da criança. A necessidade de um ambiente que esteja preparado para melhor receber e exprimir as informações que a criança traz é fundamental nos primeiros 16 anos de vida, pois é nesse período que se encontra a principal base da construção de sua autonomia.
   A importância de educadores-facilitadores numa educação que compreende que a criança não nasce como “ um quadro em branco” (como sempre se pensou) é imensa.
            O educador é um observador que enxerga a criança em sua dupla faceta, indivíduo e coletivo. A observação nesse sentido torna-se o exercício de recepção e reflexão sobre demandas que cada criança exprime nas suas interações com o ambiente, principalmente no brincar.
 É ele quem vai observar  profundamente sua turma, conhecer como são dadas suas interações enquanto  indivíduos e grupo, saber quais sentidos mais utilizam para uma sua plena interação no meio onde esta inserida,  e é pelo seu método, sua maneira de apresentar as demandas trazidas, que influenciará a criança a criar seu prisma de reconhecimento do mundo, bem como se interessar, ou não, pelo assunto proposto. O educador que trabalha com a perspectiva dada pela Educação dos Sentidos entende que nós somos corpo sensorial e é através dele que descobrimos o mundo.

Se o objetivo da educação é ensinar aos que chegam no mundo como se organizam as sociedades, leis  da física, geometria matemática, a tabela dos elementos presentes no nosso planeta, a palavra escrita e falada etc... então que utilizemos essa “linguagem sensorial” para tratar de tais assuntos e não remarmos contra a correnteza energética do nosso desenvolvimento.
Nesse contexto, acredito que o quê nos falta como educadores, é conseguirmos quebrar o ciclo que nos castra a imaginação, que nos pré-julga como seres sem conhecimento, nos tolhe a iniciativa, matando a curiosidade que é nossa maior qualidade para o saber. Características educacionais que nos educaram e que nos impedem de empoderarmos na criação autoral de linhas de aprendizagem que nossos alunos necessitam.

  Tão vasto como o campo da educação são suas possibilidades imaginativas de abordagem do conhecimento. Podemos utilizar a arte para ensinar matemática, geografia para falar de línguas, línguas para falar de música, música para falar de história, matemática para falar biologia e podemos também utilizar o meio ambiente como palco e sala de aula prática dessa sistematização que a educação dos sentidos também propõe.

  A criança não entende o meio ambiente como algo externo e dissociado de si, a criança é o próprio ambiente. Os elementos da natureza: terra, água, fogo, ar e espírito também compõem a criança e o ato de brincar com eles é se conhecer.
 O meio ambiente no contexto escolar é o pátio. É nos 20 minutos de recreio que a maioria das crianças espera para ser livre na educação, livre para expandir, para socializar, para brincar. Essa observação é de grande valia para elaborarmos nossa metodologia dos sentidos. Ora, se a criança demonstra tanta intimidade com o pátio por quê não transformá-lo numa imensa sala de aula ao ar livre?
  Podemos trazer os conteúdos curriculares para serem vistos, tocados, cheirados, analisados, compreendidos em sua prática. Estudar biologia com os micro-organismos da compoteira, entender  matemática com as sementes da horta, adequar os gráficos da física a proporção de crescimento das plantas, a química nos minerais presentes nos solos do jardim, arte nas flores e nas cores, o ciclo da água no volume  de chuva que enche a cisterna,  história ao redor de uma fogueira, etc.
 As imensas possibilidades de aprendizagem através dos sentidos são tão infinitas e profundas como os mistérios do desenvolvimento humano. Uma educação que visa ser sustentável necessita reconhecer que humanos e ambiente passaram por trajetórias de evolução conjunta, por isso são mutuamente interconectados e interdependentes uns aos outros. Cada embrião carrega essa lembrança de co-criação, carrega a lembrança genética dessa história. Limitar a criança somente a sala de aula, aos computadores e as teorias dos livro didáticos é desconectá-la da Terra, planeta que vivemos. Então, de onde viemos?