O Papel do
Educador na Educação dos Sentidos
O papel dos
educadores assemelha-se ao um facilitador, de um maestro musical que não rege,
mas compõem mutuamente a sinfonia do desenvolvimento humano através do
brincar. Nós, seres humanos, já trazemos conosco a maior parte de nossas
demandas necessárias para nos auto-regularmos de acordo com o que vamos
vivenciando. As brincadeiras, a pintura, a arte em si são exemplos de
ferramentas que podem ser utilizadas pela criança nessa auto-regulação. As
informações contidas nas brincadeiras e
feitio da arte são exteriorizadas a partir de um “intuir” daquilo que a criança
compreendeu. Exprime-se desta forma o brincar, enquanto sentido de evocação de
experiências anteriores, desta forma o brincar tornar-se-ia uma rememoração
ampliada de vivências passadas que agora
são atualizadas afim de uma melhor compreensão no inconsciente da criança. A
necessidade de um ambiente que esteja preparado para melhor receber e exprimir
as informações que a criança traz é fundamental nos primeiros 16 anos de vida,
pois é nesse período que se encontra a principal base da construção de sua
autonomia.
A importância de educadores-facilitadores numa educação que compreende
que a criança não nasce como “ um quadro em branco” (como sempre se pensou) é
imensa.
O
educador é um observador que enxerga a criança em sua dupla faceta, indivíduo e
coletivo. A observação nesse sentido torna-se o exercício de recepção e
reflexão sobre demandas que cada criança exprime nas suas interações com o ambiente,
principalmente no brincar.
É ele quem vai
observar profundamente sua turma,
conhecer como são dadas suas interações enquanto indivíduos e grupo, saber quais sentidos mais
utilizam para uma sua plena interação no meio onde esta inserida, e é pelo seu método, sua maneira de
apresentar as demandas trazidas, que influenciará a criança a criar seu prisma
de reconhecimento do mundo, bem como se interessar, ou não, pelo assunto
proposto. O educador que trabalha com a perspectiva dada pela Educação dos Sentidos
entende que nós somos corpo sensorial e é através dele que descobrimos o mundo.
Se o objetivo
da educação é ensinar aos que chegam no mundo como se organizam as sociedades,
leis da física, geometria matemática, a
tabela dos elementos presentes no nosso planeta, a palavra escrita e falada
etc... então que utilizemos essa “linguagem sensorial” para tratar de tais
assuntos e não remarmos contra a correnteza energética do nosso
desenvolvimento.
Nesse
contexto, acredito que o quê nos falta como educadores, é conseguirmos quebrar
o ciclo que nos castra a imaginação, que nos pré-julga como seres sem
conhecimento, nos tolhe a iniciativa, matando a curiosidade que é nossa maior
qualidade para o saber. Características educacionais que nos educaram e que nos
impedem de empoderarmos na criação autoral de linhas de aprendizagem que nossos
alunos necessitam.
Tão vasto como o campo da educação são suas possibilidades imaginativas
de abordagem do conhecimento. Podemos utilizar a arte para ensinar matemática,
geografia para falar de línguas, línguas para falar de música, música para
falar de história, matemática para falar biologia e podemos também utilizar o
meio ambiente como palco e sala de aula prática dessa sistematização que a
educação dos sentidos também propõe.
A criança não entende o meio ambiente como algo externo e dissociado
de si, a criança é o próprio ambiente. Os elementos da natureza: terra, água,
fogo, ar e espírito também compõem a criança e o ato de brincar com eles é se
conhecer.
O meio ambiente no contexto escolar é o pátio.
É nos 20 minutos de recreio que a maioria das crianças espera para ser livre na
educação, livre para expandir, para socializar, para brincar. Essa observação é
de grande valia para elaborarmos nossa metodologia dos sentidos. Ora, se a criança demonstra tanta intimidade com o pátio
por quê não transformá-lo numa imensa sala de aula ao ar livre?
Podemos trazer os conteúdos curriculares para serem vistos, tocados,
cheirados, analisados, compreendidos em sua prática. Estudar biologia com os
micro-organismos da compoteira, entender
matemática com as sementes da horta, adequar os gráficos da física a proporção de
crescimento das plantas, a química nos minerais presentes nos solos do jardim,
arte nas flores e nas cores, o ciclo da água no volume de chuva que enche a cisterna, história ao redor de uma fogueira, etc.
As imensas possibilidades de aprendizagem
através dos sentidos são tão infinitas e profundas como os mistérios do
desenvolvimento humano. Uma educação que visa ser sustentável necessita
reconhecer que humanos e ambiente passaram por trajetórias de evolução
conjunta, por isso são mutuamente interconectados e interdependentes uns aos
outros. Cada embrião carrega essa lembrança de co-criação, carrega a lembrança
genética dessa história. Limitar a criança somente a sala de aula, aos
computadores e as teorias dos livro didáticos é desconectá-la da Terra, planeta
que vivemos. Então, de onde viemos?